“Acreditou-se que o progresso estava automaticamente garantido pela evolução histórica”.
“Acreditou-se que a ciência seria sempre progressiva, que a indústria traria sempre benefícios, que a técnica só traria melhorias”.
“Acreditou-se ser possível que as leis históricas garantiriam o desenvolvimento da humanidade e tomando por base este argumento , acreditou-se ser possível atingir a salvação na terra , o que não significa ser necessário renunciar à idéia de aperfeiçoar as relações humanas e civilizar a humanidade”.
(Edgar Morin, Amor Poesia e Sabedoria, 2002)
Em Outubro de 1917, a humanidade se depara com o início de um novo paradigma emergente, uma nova sociedade de economia planificada na qual o estado seria o grande guardião da propriedade dos direitos civis, da lei e da ordem, garantindo a alimentação, o acesso, a educação e a defesa da nação. Seria uma empreitada na direção de uma revolução histórica, tendo como fundo as idéias marxistas e a utopia da construção de uma nação igualitária e muito diferente da sociedade que Marx viu na Inglaterra no século anterior, com níveis de exploração altamente questionáveis.
Mas, como no livro “Revolução dos bichos”, de George Orwell, a ideia inicial era ótima, porém logo o poder sobe à cabeça dos governantes e estes lideram a maior repressão já vista aos direitos individuais, em nome das garantias do estado e de sua proteção. Contudo, surgiram avanços significativos em contraposição ao capitalismo, ou melhor, ao imperialismo, e no centro desta discussão houve todos os embates possíveis no campo científico, nuclear, espacial, esportivo, social e econômico.
E quais as lições que esta odisséia do século passado nos trouxe? Quais os limites da proteção do estado? Até onde as liberdades individuais devem ser mantidas? Será que não temos competência para gerenciar modelos alternativos? O desejo pelo poder nos afasta do compromisso com a humanidade? Enfim, inúmero questionamento poderia retirar daqueles momentos históricos, que foi uma tentativa clara na direção do progresso e da evolução histórica, frustrada por não ter considerado o desejo de “liberdade e/ ou individualismo” que emerge do sonho individual de achar-se no direito de guiar os próprios passos, vivendo sob a imaginária autonomia de construir o seu próprio caminho.
Tivemos de ambos os lados do mundo bipolarizado um avanço significativo da ciência e um progresso considerável da indústria; mesmo no mundo chamado comunista, tivemos avanços técnicos consideráveis, mas as diferenças residiam na proposta política de ambos e do poder de influência. Dentro da cortina de ferro havia várias nacionalidades, etnias, culturas e perspectivas históricas diferentes; tudo isso sobreviveu e até funcionou sob o grande modelo do que se intitulava União das Repúblicas Socialistas Soviéticas.
Com a queda do regime centralizador e belicamente poderoso, porém, vivemos em um vácuo da ausência de outra possibilidade de modelo, gerando pela primeira vez na história uma supremacia capitalista e monoteísta, no qual aquilo que não tem valor cultural para a indústria de massa é penalizado, reduzindo-se a possibilidade da arte e da poesia a um pequeno público, mais afortunado e privilegiado, forçando-se assim a continuidade histórica da construção das elites nacionais, cercadas pelo isolamento do social e pela impossibilidade da inclusão social das pessoas dentro dos seus países, e destes países frente às nações tecnológica e socialmente mais capazes.
Evidentemente, estamos vivendo muito próximos de um caos pós-moderno, cujas principais perguntas já têm as suas respostas clássicas, que são de domínio público. Porém, não temos as respostas para as perguntas ainda não formuladas ou que, se formuladas, não o foram para as pessoas certas; portanto, rumamos para o desconhecido, à mercê da nossa própria infantilidade e do máximo individualismo, embora já percebamos o incômodo da poluição do ar, dos rios e oceanos através normalmente do cheiro fétido do mau hálito da sociedade consumista.
Constatamos, ainda, que a poluição social, chamada desemprego, afeta diretamente a capacidade de resposta deste modelo atual, que incapaz de gerar respostas a esta demanda se vê obrigado a continuar sem repensar as possibilidades fora do que temos hoje, deixando de ver que energias alternativas já podem ser utilizadas com investimento muito pequeno e continuando a preferir os combustíveis fósseis, mesmo com valor estratosférico. É a imposição capital que não se esgota enquanto o modelo for viável economicamente, mesmo que para isso tenha que deixar as suas marcas nas pessoas, instituições e no planeta.
A quantos interessa esse modelo? Vemos vários esforços paliativos ao modelo; é o caso, por exemplo, da questão da responsabilidade social, que não ataca o centro do problema, apenas o adia para as próximas gerações. Mas, façamos um apelo à verdade e não em nome mais apenas do progresso e sim da continuidade da espécie humana. Precisamos, efetivamente, avaliar a complexidade deste paradigma que não supre as nossas demandas humanas e nos reposicionar, entendendo que a nova complexidade se aproxima e praticando, acima de tudo, “uma ciência com consciência”, como diz o grande Edgar Morin.
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