domingo, 14 de agosto de 2011

Paradigma Ecológico

“Levar a razão ao seu limite máximo conduz ao delírio.”

“A autenticidade do amor não consiste apenas em projetar nossa verdade sobre o outro e finalmente ver o outro exclusivamente segundo nossos olhos, mas sim de nos deixar contaminar pela verdade do outro.”


“O verdadeiro amor se reconhece naquilo que sobrevive ao coito, enquanto que o desejo sem amor se dissolve na famosa tristeza pós-coital: homo triste pos coiteun. Aquele que é sujeito do amor é Felix post coitum.”
Edgar Morin, Amor Poesia e Sabedoria, 2002.

Ao nos perdermos na constelação de filósofos, sociólogos, psicólogos e pedagogos, caminhamos com as diversas correntes e ideologias de cada um dos nossos pensadores prediletos, mas cada um transfere do subjetivo uma dose de abstração e, conforme seu tempo, traduz a realidade e verdade a partir do seu próprio entendimento das forças do seu tempo e da escala de valores recebidos do entendimento histórico e do nível de evolução pessoal que este adquire através dos mananciais disponíveis, de seus insights e da capacidade de reviver um pouco do melhor de cada pensador ou escola pela qual este navega.

Mas a razão é infinitamente linear e complexa, o mesmo que dizer que um tecido tenha ao mesmo tempo um comprimento infinito e uma profundidade infinita; os homens, porém, em sua finitude pretendem sondar o infinito, o mesmo que se tem feito em relação ao espaço sideral, portanto sem muito sucesso de obter respostas para os nossos padrões de entendimento e percepção. Será que estamos sozinhos neste modelo de razão que construímos? Assim como sozinhos neste universo ainda muito desconhecido, é possível que tenhamos avançado muito mais no conhecimento dos planetas e constelações próximos do que em nossa própria razão, daí o medo de atingir o tão perigoso delírio.

Da razão de volta ao amor, será possível sairmos dos atuais paradigmas que cercam o amor para revisitarmos todas as possibilidades de amor deixadas no caminho? Como formatos de amor não adequados diante daqueles tempos históricos, imaginemos o conceito de amor para um grande Faraó do Egito antigo, que tinha a necessidade de formar um grande clã para, dentre os filhos mais fortes e inteligentes, escolher o que teria o poder e a riqueza mitológica, protegendo os seus deuses favoritos. Imaginemos o conceito de amor para as mulheres dos faraós. É possível que esse conceito seja algo tão forte quanto a opção da possibilidade de eternizar as raízes de um deus faraônico de proteger a riqueza e a dimensionalidade da preservação dos corpos mumificados para outra possibilidade de vida.

A nossa sociedade estreitou as possibilidades de amar e de compreender o mitológico longe do monoteísmo e próximo do adverso domínio de uma civilização que hoje apenas sobrevive de uma história que, no século passado, voltou a ser remexida na expectativa de compreender as suas linhas mestras e mitológicas de sua arquitetura, conquanto até hoje questionada quanto às possibilidades da engenharia da época. Mas, voltando ao amor; será que devemos revisitar o amor e a mulher ao longo dos tempos em suas diversas nações e costumes para tentar compreender o amor a partir do feminino e para não termos apenas uma versão masculina da história deste sentimento? Com certeza teremos surpresas maravilhosas neste caminho de volta ao passado, ou seja, ler a história possivelmente escrita pelas mulheres e pelos homens que devem assumir daqui em diante uma nova versão quanto ao reflexo de um amor feminino não só do ponto de vista materno, mas também de uma nova dialógica da possibilidade de um amor que transcenda o que conhecemos hoje nos relacionamentos, buscando uma conotação da metaamorização .

A força fisiológica da complementação amorosa, trazendo em sua base não somente o desejo, mas agregando a ele um amor continuado e como na minha metáfora da meta-amorização , rever a nossa noção do exercício da sexualidade não como o sexo pelo o ato do sexo, mas a ressignificação de um caminho de entrosamento entre o mitológico e o fisiológico, caminhando evidentemente para uma transformação das relações afetivas; no entanto, para tal se faz necessário um outro olhar sobre a lógica atual da felicidade fácil, que pode ser adquirida nas prateleiras, concessionárias ou até em livros dedicados ao avanço da autoestima , ou seja, não haverá amor pleno se não houver a possibilidade de nos afastarmos do paradigma consumista e nos aproximarmos do paradigma ecológico de respeito à totalidade.
















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