“O amor faz parte da poesia da vida. A poesia faz parte do amor da vida. Amor e poesia engendram-se mutuamente e podem identificar-se um com o outro”.
(Edgar Morin, 2002)
“Se não esperas o inesperado, não o encontrarás”
(Heráclito)
“Os deuses nos inventam muitas surpresas: O esperado não acontece, e um deus abre o caminho para o inesperado”
(Eurípedes. Final da Medeia)
Caminhamos na busca da certeza amorosa, filosófica e científica, quase sempre pautados por um conjunto de saberes que não nos consideram em sua dimensão, uma vez que somos como que tragados por um turbilhão destes saberes, canonizados pela escola e colocados meticulosamente em nossas precoces mentes.
Nossas sociedades trabalham com um fundo de mecanicismo, nos compondo com saberes provindos do pior da tradição, sendo o resto do conhecimento sobrevivente distorcido para atender ao que é aceito socialmente, na tentativa implacável de que sejamos moldados como felizes e desejosos consumidores e arrastados a contribuir para os impostos nacionais.
Nessa viagem incontestável, acordamos frente a um raio de “desrazão, buscando na prudência não nos esterilizarmos evitando os riscos a qualquer custo” (Morin, 2002, p.08) uma ponta de amor pode nos trazer para fora deste universo esperado e nos levar a desembocar no universo paralelo, no qual encontramos um pequeno portal de saída, longe do desvalorizado circuito consumista e onde a poesia não possa ser vista como um traço de loucura. Temos que preservar este caminho que nos leva à incerteza, na esperança de trazer do outro lado uma porção de consciência individualizada, capaz de iluminar pelo menos o nosso próprio caminho.
A temperança precisa nos acompanhar, por uma questão de equilíbrio, mas uma vida toda pautada nela, não nos dá a oportunidade de burilação, de experimentação, nos levando a não buscar a oportunidade de “consumação” e do tão desejado êxtase, que por medo da barreira da razão nos faria convergir para a felicidade possível, tão frágil e demente como a nossa própria idéia de existência.
Sair do lugar comum pressupõe ter a coragem de, por alguns momentos, sair da loucura humana, pois segundo (Morin, 2002,p.7) “...as desordens da afetividade e as irrupções do imaginário, sem a loucura do impossível, não haverá élan, criação, invenção, amor e poesia”. Precisamos criar o nosso próprio caminho; contemplar o sentido do amor e da poesia, que é o sentido da qualidade suprema da vida. Tendo a oportunidade de andar nesta trilha, talvez possamos compreender o que de melhor nos cerca: dentre outras coisas a valoração de nossas relações conosco mesmos e a interação inevitável com o nosso íntimo - trazendo assim ao mundo real o desabrochar para um novo entendimento sobre os mitos da sexualidade, do amor, da poesia e da sabedoria em contextualização íntima com a nossa casa planetária.
Bibliografia:
MORIN, Edgar. Amor Poesia e Sabedoria – 10ª ed. - Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2011.
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